Netflix, Paramount e Warner Bros. Discovery: como a guerra de lances muda o futuro da Creator Economy

Do mega catálogo à globalização da cultura regional: como a disputa pelo maior ativo de Hollywood redesenha o mercado criativo no Brasil e no mundo

A disputa pela compra da Warner Bros. Discovery acaba de ganhar um capítulo decisivo - e inesperado. Dois dias após a Netflix anunciar a aquisição dos estúdios e da divisão de streaming da WBD por US$ 72 bilhões, a Paramount entrou no jogo com uma oferta hostil de US$ 108 bilhões, tentando assumir o controle total da companhia, incluindo canais como CNN e TNT.

A nova proposta, apresentada diretamente aos acionistas, pode inviabilizar o acordo com a Netflix e abre um período de incertezas na indústria. E onde há incerteza no audiovisual, há movimentação imediata na Creator Economy.

Mais do que uma fusão, este momento representa um reordenamento de forças: estúdios tradicionais, plataformas de streaming e a economia de influência passam a operar em um mesmo tabuleiro estratégico em que cada movimento agora impacta criadores, marcas, agências e todo o ecossistema digital.

A pergunta não é mais “quem vai comprar a Warner?”, mas “como essa guerra de lances mexe com o futuro da influência?”

A era dos supercatálogos ganha tensão e creators estão na disputa cultural

A possível união entre Netflix e Warner criava um cenário claro: o maior supercatálogo da história do streaming concentrado em uma única plataforma. Agora, com a oferta da Paramount, surgem dois caminhos possíveis e ambos impactam creators de forma profunda:

Se a Netflix vencer:

  • Atenção ultra concentrada em um único hub premium de cultura pop;
  • Aumento do volume de conteúdos, universos e fandoms dentro da Netflix;
  • Explosão de demanda por creators que traduzem franquias e narrativas.

Se a Paramount vencer:

  • Redesenho da disputa entre streamings; Paramount+ ganharia força inédita;
  • Fortalecimento da janela de cinema, já que a Paramount promete mais de 30 lançamentos anuais nas telonas;
  • Creators voltados para cinema, crítica, bilheteria e “premiere culture” ganham espaço.

O ponto em comum entre os dois caminhos?

Creators voltam a ser fundamentais para a tradução cultural, isto é, mediar o entendimento do público sobre universos complexos, revitalizar franquias, reativar fandoms e gerar conversas sobre obras clássicas.

O streaming como plataforma de creators

Para a economia de influência, o impacto não está apenas no catálogo, mas em como cada empresa entende a relação entre streaming, criadores e o futuro da produção.

Com a Netflix:

  • Expansão para games, eventos ao vivo e interatividade se acelera;
  • Cresce a tendência de creators atuarem como apresentadores, correspondentes, comentaristas oficiais;
  • A estratégia de formatos curtos dentro da comunicação da Netflix se intensifica.

Com a Paramount:

  • Maior presença no cinema abre espaço para creators atuarem no circuito de críticas, premieres, making ofs, coberturas de sets e tudo que envolve a criação cinematográfica;
  • Narrativas transmídia entre TV aberta, TV a cabo, streaming e cinema podem gerar projetos híbridos com creators.

Para marcas e agências, influência vira um canal oficial na disputa das gigantes

Independentemente de quem vença, o efeito sobre marcas e agências é imediato: cresce a demanda por creators especialistas em cultura pop e storytelling. Estruturas dedicadas a fandom, franquias e narrativas seriadas passam a ser diferenciais estratégicos.

Além disso, o branded content se sofisticará, com narrativas ficcionais, recaps roteirizados, branded reactions, microdocumentários, universos compartilhados com creators e muito mais.

O impacto global: creators brasileiros podem se tornar “diplomatas da cultura”

A disputa por quem controlará o catálogo mais valioso de Hollywood também redefine o papel dos creators brasileiros no mercado global. Com qualquer um dos cenários, os creators do Brasil ganham espaço em três frentes:

  1. Tradução cultural: explicar narrativas, universos e contextos para o público local.
  2. Visibilidade inversa: creators brasileiros entrando em campanhas globais.
  3. Coproduções internacionais: cada vez mais importantes para plataformas que buscam diversidade cultural real.

O Brasil, por ser um dos maiores mercados de streaming do planeta, se torna um polo estratégico. E creators, parte essencial dessa equação.

Mas há riscos: instabilidade aumenta a pressão por profissionalização

Com a guerra de lances ainda aberta, creators enfrentam um cenário desafiador:

  • incerteza sobre direitos autorais e uso de clipes;
  • mudanças bruscas de estratégia das plataformas;
  • necessidade de contratos mais complexos;
  • negociações cada vez mais internacionais;
  • exigência de visão analítica além do hype.

A Creator Economy passa por uma fase que exige maturidade e posicionamento profissional: creators como microempresas, e não apenas produtores de conte