Valter Rege, Bruno Maciel e Vic Almeida mostram como a favela se tornou um dos centros mais inovadores da produção audiovisual, transformando experiências de vida em estética, mercado e impacto social na Creator Economy

No painel Audiovisual pelas lentes da favela, os cineastas e produtores Valter Rege, Bruno Maciel e Vic Almeida compartilharam vivências que revelam o poder da periferia como motor criativo e econômico. Suas trajetórias reforçam que a favela não é apenas cenário: é protagonista, estética e discurso.

Da experiência pessoal ao cinema autoral
Valter Rege, que se define como preto, gay, favelado e cineasta, destacou que o acesso à tecnologia — como câmeras em celulares — abriu espaço para que pretos e LGBTs contem suas histórias de forma própria, rompendo com décadas de narrativas dominadas por olhares externos. Seu compromisso é mostrar a potência e a alegria da favela, fugindo da lógica que reduz esses territórios à violência.

Originalidade e resistência criativa
Bruno Maciel relatou como começou filmando westerns improvisados na laje e, com a Tomada Periférica, construiu um estilo que mistura humor, ação e improviso. Ele rejeita seguir tendências e transforma recursos limitados em linguagem, mostrando que criatividade periférica é força estética e não limitação. Para ele, filmar é também educar: cada gravação é oportunidade de ensinar jovens da quebrada a operar câmeras e sonhar com o cinema.

Da ONG à empresa criativa
Vic Almeida trouxe o olhar de quem quer fazer seu trabalho ser reconhecido como negócio, e não apenas como ação assistencial. Sua meta é romper a visão de que projetos de favela são apenas filantrópicos, mostrando que produções periféricas têm valor comercial, profissional e potencial de escala.

Educação, mercado e transformação
O trio foi unânime ao afirmar que a próxima fronteira é investir em formação e estrutura. Falta financiamento consistente e incentivo para que mais profissionais periféricos possam acessar equipamentos e distribuição. Mesmo assim, eles seguem criando soluções, hackeando o mercado e transformando suas comunidades em polos de audiovisual e oportunidades.

O painel provou que, quando a favela pega a câmera, muda o roteiro: o cinema se torna ferramenta de identidade, economia e esperança, mostrando que inovação nasce onde a autenticidade é inegociável.